Sindicato de Artistas: "Nessa exposição você não precisa babar ovo de ninguém para participar"
- Mariana Mariotto
- 24 de mai. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 1 de set. de 2023
Um século (e um ano) após a Semana de Arte Moderna de 1922, me deparo com uma intensa divulgação online da exposição Sindicato de Artistas, um projeto colaborativo idealizado por Isabella Lescure (26). Formada em Artes Visuais e coordenadora da Residência Artística Oriente, do Rio de Janeiro, Isabella acredita e incentiva a movimentação do sistema da arte no Brasil, atualmente "engessado e clubista".
Um sindicato é uma organização permanente colaborativa de afirmação de leis, direitos, interesses e deveres de trabalhadores de uma profissão comum, lidando com questões intra e extra profissionais. A exposição não afirma leis e não necessariamente propõe um novo movimento estético para a arte brasileira – aliás, muito pelo contrário. Ela existe para dar continuidade à inserção de novos artistas na cadeia artística, algo essencial para a visibilidade de expressões diversas na contemporaneidade. Da mesma forma que um sindicato e assim como a Semana de 1922, a exposição colaborativa é uma maneira de reunir esses profissionais, trocar experiências e dar espaço para novas vozes artísticas em prol de sua própria sobrevivência, colocando em pauta, mais uma vez, o artista e sua produção.
A temática da mostra é livre: o regulamento só especifica que as obras deveriam ter dimensões de até 100x100x100 centímetros (1 metro cúbico) e que o artista "tenha certeza somente de como [montá-la]"."Traga algo de sua autoria, fruto da sua pesquisa e que seja um tesão para você", sugere o edital.
Laura Agresti (20), bacharelanda em Artes Visuais em São Paulo, participa da exposição com uma seleção de pinturas em acrílica sobre tela:
"Escolhi expor quatro telas que compõem uma pesquisa a respeito da imagem mental - memórias, sonhos, alucinações, etc. São pinturas [...] de um lugar cujo a lembrança imagética recorro com frequência na minha mente. Estou produzindo essas pinturas e desenhos memorando as várias paisagens e pontos marcantes desse lugar em repetição e explorando as variações e a maleabilidade da memória visual. Quatro telas, quatro lugares dos vinte e dois dos quais produzi e continuo produzindo imagens em repetição, em rememória, estão na exposição Sindicato de Artistas", diz.
Criou-se uma exposição de obras únicas, aleatórias e completamente distintas entre si, mas que, de alguma maneira, se organizam no espaço Massapê de forma harmônica e estranhamente coerente. Com a coordenação do montador Henrique Monteiro, o projeto, que iniciou sua montagem no dia 21, une elementos nos mínimos detalhes que sutilmente se agregam e combinam uma obra da próxima. É justamente pela diversidade de estilos e produções que a exposição se torna visualmente completa.

Última sala da exposição Sindicato de Artistas em processo final da montagem
Além dos colaboradores (Andrés Hernández, Eduardo Fadul, Julia Angulo, Nadia Guerrero e Raquel Fayad), Sindicato recebeu mais de 120 artistas independentes das mais diversas origens: artistas plásticos, performers, designers, videoartistas e fotógrafos. Segundo Lescure, a participante mais jovem possui 12 anos e a mais velha tem mais de 70. A exposição até conta com a participação de uma artista mineira – um aspecto essencial tanto para o crescimento do projeto em si como para dar oportunidade a esses artistas emergentes.
A exposição nada mais é do que um convite, de igual para igual, em que todos os artistas têm vez e têm voz. Sindicato de Artistas tem, em sua natureza, a proposta de gerar, germinar e cultivar o espaço, a troca e uma participação horizontal que, mesmo ainda em processo embrionário, tende a abrir muitas portas – essas que assim como permitem a entrada de novas propostas e novos artistas, também aos poucos se libertam das práticas engessadas e excludentes do sistema brasileiro da arte.
"Em Artes Visuais, a maior parte das oportunidades que temos de expor nossos trabalhos são editais ou galerias – o que tem certa dificuldade porque a seleção é bem acirrada, principalmente porque sou estudante. [...] Os trabalhos que tenho mais vontade de expor, que me orgulho mais, são geralmente de pesquisas que ainda estão em andamento. [...] Esse é um dos motivos pelo qual o projeto de uma exposição sem processo seletivo é tão interessante: dá a oportunidade de expor o que ainda não está totalmente definido", diz Laura Agresti
Serviço Sindicato de Artistas
Rua Fortunato, 68 – São Paulo, SP 25 a 27 de maio
Quinta-feira: das 16h às 21h; Sexta-feira: a visitação será por agendamento; Sábado: das 11h às 17h
Evento aberto ao público

Isabella Lescure, fotografada por Mariana Mariotto (2023)
Adorei saber dessa iniciativa! Ficou muito legal a mistura de todos os trabalhos criando uma linguagem do caos:)