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'Triângulo da tristeza' é tão ridículo que chega a doer

Triângulo da tristeza (2022), escrito e dirigido pelo sueco Ruben Östlund, é um dos filmes mais ousados que vi esse ano. Dividido em três partes e se mostrando cada vez mais problemático com o passar do tempo, o filme apresenta personagens caricatos e maravilhosamente performados, principalmente pela dupla Woody Harrelson e Zlatko Burić.


Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean Kriek), um casal disfuncional de modelos e influenciadores digitais, ganham uma viagem em um navio de luxo, junto de passageiros milionários de diferentes partes do mundo. Tudo muda quando o navio é atacado e os sobreviventes se encontram em uma ilha supostamente deserta, sem mordomia, regras ou hierarquia.


Com um senso de humor ácido, o filme faz fortes críticas à desigualdade social de maneira inteligente e engraçada — no cinema, a sala toda teve um longo ataque de riso, desses que até doem a barriga. Ao mesmo tempo sutis e escancaradas, as sátiras ao comportamento e funcionamento social contemporâneo são tão ridículas que não resta nada ao espectador, a não ser dar risada. É o famoso "rir para não chorar".


Triângulo da tristeza traz diversas reflexões: vemos as condições de trabalho dos funcionários em comparação ao conforto dos passageiros. Vemos uma tripulação inteira obrigada a pular no tobogã da piscina só porque uma passageira milionária pediu. Até a diversão se torna uma ordem nessa rígida tripulação comandada por Paula (Vicki Berlin). Refletimos sobre o capitalismo e o comunismo, refletimos sobre nossa cultura material e superficial. É ridículo assistir Dimitri (Zlatko Burić) chorar e, ao mesmo tempo, recolher as jóias da esposa falecida. É ridículo assistir todos aqueles milionários sentados na areia da praia, com cara de bobos e incapazes de fazer qualquer coisa.


Na ilha, de nada vale montes de dinheiro ou milhares de seguidores. A hierarquia social existente no navio é completamente abalada quando Abigail (Dolly De Leon), uma das muitas faxineiras da embarcação, mostra que é a única capaz de sobreviver e proteger o grupo.


Como um belo tapa na cara, Ruben Östlund apresenta todas as verdades da nossa sociedade sem a menor dó. Com um final interpretativo, Triângulo da tristeza é, em muitos aspectos, uma grande e dolorida surpresa.




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